domingo, 9 de dezembro de 2012

Conto: Situações da vida...

"E essa aliança aí? Não to te conhecendo ein..." Ele disse rindo de leve. Parecia criança, fazendo essas perguntas como alguém que se importa, ou como alguém que me conhece. Eu só queria dar o fora, deixar aquele babaca a ver navios o mais depressa possível, mas os códigos de educação que nos são impostos desde a infância me obrigavam a ficar ali ouvindo aquele monte de merda. "Ah, tô namorando faz um tempo já, nada demais." Desconversei, buscava simplesmente uma forma de poder ir logo pra casa ou qualquer lugar, mas ele continuou com um típico "É gostosa?"... "Não tanto quanto a sua mãe" foi a resposta que me veio à cabeça, pior que nem assim ele iria embora, iria querer me bater e daí seria pior porque eu poderia acabar na delegacia após prestar o serviço social de espancar um inútil retardado desses.

Quando terminei a escola acreditei que havia chegado enfim o momento de liberdade onde eu não seria mais forçado a conviver com um bando de gente ignorante. Erro meu, os desgraçados ainda me reconhecem na rua e se aproveitam de minha cordialidade. Sempre me odiei por ser uma dessas pessoas legais que trata todo mundo bem, mesmo sem querer ou gostar de ninguém. Sabe, né, essas pessoas naturalmente sociáveis? Pois é, são tipo eu. "Ei, tá aí truta? Tu entrou numa brisa louca" ele me deu um empurrão no ombro. "NÃO ENCOSTA A MÃO EM MIM, ESCÓRIA." Foco, foco. Eu ri da forma menos amarela possível (o que já foi mais amarelo que o Sol) e disse que apenas estava pensando, ele ignorou e já me interpelou repetindo a pergunta tão imbecil: "É gostosa?" Não, pior que não é gostosa, se é isso que você está pensando. Magricela feito uma porta, acho que a bunda menos carnuda que eu já comi.

Aliás, essa sociabilidade que me odeio por ter acaba compensando quando é pra conseguir uma foda, as meninas acabam achando que eu sou legal e já vão logo abrindo as pernas mediante alguma conversa mole. Ah! Foco! Estava falando da bunda. Bunda de gaveta, dessas que não dá vontade de comer o cu da garota e ainda não tem peito. As coxinhas são pegáveis assim mas nada de especial. Ainda bem que é bonita, senão ia ser uma tábua feia. Mas eu talvez gostasse assim mesmo, sei lá.

"Sim, gostosa." Menti. Ele riu, "Aí sim!" e me deu um tapa nas costas. Desgraça, mas por que esses merdas têm de ser tão invasivos com o espaço individual das pessoas? Será que quando quer comer alguém já chega enfiando o pinto também?! Nesse ponto eu já comecei a ficar nervoso, o que é bem diferente de meu estado "de saco cheio" anterior. Só conseguia ficar criando teorias sobre como eu dispensaria aquele chato o mais rápido possível. E ele começou a divagar... "Eu tava pegando uma mina aí, também, mas daí..." Bla bla bla, enquanto estivesse apenas divagando assim, eu poderia simplesmente fingir estar prestando atenção enquanto que o ignorava, até que ouvi um "Não tô certo, cara?!" ri por dentro e disse "Sim, claro!"; tomara que ele não tenha dito "Você é um viado de bosta" antes. Ele sorriu com inocência e falou então algo que me assustou: "Você é truta, cara, é isso aí. Ainda bem que eu não tenho nada pra fazer, posso ficar trocando idéia contigo até umas hora..." Nesse momento entrei em desespero e comecei a pensar imediatamente sobre qual seria a desculpa mais crível para dar o fora dali.

Foi quando avistei minha tia, ao longe. Dessas tias gordas que a gente vê comprando alimentos gordurosos de vez em quando, no supermercado... Sim, estávamos no supermercado. Bem na porta, eu só ia comprar uns rolos de papel higiênico que faltavam em casa, esse cara parecia que só ia se consultar com um psicólogo. Acenei rápido para minha tia "TIA!!!" e dei um sorrisão. Ela sorriu de volta e chamou pelo meu nome. Movi as mãos como se enrolasse algo entre os dedos, sinalizando que queria conversar. Disse então pro lixo humano "Aí cara, vou lá com minha tia, tenho que falar com ela e vou aproveitar, já que eu encontrei ela aqui né... Melhor tu nem vir junto cara, 'cê não sabe como essa mulher é chata." Ele deu mais um pouco de risada e falou alto "Aahh firmesa! Qualquer hora nós se tromba aí, falou truta!" "Falou" eu finalizei cumprimentando-o com um aperto de mãos.

Fui até a gorda, que me beijou, abraçou e já foi me levando pelo ombro com ela pra dentro do supermercado "Nossa como você tá lindo ein, como vai sua mãe? E seu pai? Nossa tá calor né, vamos comprar sorvete, vai me contando!" Lamentei minha decisão precipitada e fui andando com ela.

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É isso, LEVEMENTE auto-biográfico.