terça-feira, 8 de março de 2011

A orientação sexual e minha opinião sobre sua construção e impactos dentro da sociedade

Olá a todos. A postagem de hoje é séria, portanto vou evitar as habituais piadas e palavrões que geralmente decoram meus textos aqui postados. Como já pode ser notado, adotarei também um linguajar mais rebuscado, buscando auxiliar à completa compreensão do texto, assim como minha expressão através dele.

Comecemos então, com esta que deverá ser uma das mais polêmicas publicações até então.

Orientação Sexual, de acordo com definições encontradas online, dicionários, entre outras coisas, descreve um padrão de atração emocional, romântica ou sexual para com homens, mulheres, ambos, nenhum ou outro gênero. É, no linguajar simples e direto, o que chamamos de Homossexual, Bissexual, Heterossexual, etc.

E aqui hoje vou falar sobre minhas concepções, opiniões e conhecimentos sobre o assunto, buscando um olhar imparcial – ainda que, como estamos todos sob influência de nosso âmbito social e dos estudos que realizamos anteriormente à escrita, um olhar completamente imparcial seja impossível.

Alertas prévios:

Antes que de fato comece a escrever sobre o tema, sinto-me na obrigação de alertar que de forma alguma me considero sociólogo, filósofo, psicólogo, biólogo, ou bastante estudado em qualquer outra ciência que eu venha a abordar mais a frente. Porém também acho importante lembrar que não é necessário ser um matemático para realizar uma equação de terceiro grau. Também acho importante o aviso de que com o texto que digito no momento, não pretendo de forma alguma ofender, descriminar e/ou julgar qualquer grupo social, portanto se ao chegar ao fim das linhas, você se sinta assim, nada posso fazer. Por fim, digo que o texto é pessoal, logo nada que direi aqui estarei afirmando como a verdade absoluta, apenas minha humilde e sincera opinião, baseada em estudos e ciências que a mim fazem sentido. Agora vamos começar.

Refleti durante vários minutos sobre por onde deveria começar o texto e cheguei finalmente a uma pergunta inicial: O que define a orientação sexual de uma pessoa? Em minha humilde opinião, a orientação sexual é, antes de qualquer outra coisa, definida por fatores sociais e psicológicos e é com esses fatores que pretendo trabalhar pelo resto do texto, deixando, talvez, a biologia um pouco de lado, pelo menos para o começo.

É claro que existem, sim, argumentos biológicos para tanto a descriminação quanto para a justificação das orientações sexuais que sofrem a maior parte da descriminação da sociedade, isto é, aquelas que definem um padrão de comportamento romântico, sexual ou emocional para com o mesmo sexo, no entanto, humildemente devo assumir que não tenho o estudo necessário para trabalhar meu pensamento com (ou contra) tais argumentos. Dessa forma, meu texto tornar-se-ia uma verdadeira bagunça caso eu tentasse incorporá-los em meio à minha forma de pensar o polêmico tema.

Mas então que fatores sociais e psicológicos seriam estes? Fatores culturais, eu assumo. Partilho da opinião filosófica de que o ser humano não se encaixa, naturalmente, em nenhuma das orientações que conhecemos, pois imagino um homem primitivo: Este visa apenas seu instinto, sua reprodução e o prazer o qual o instinto lhe compele a buscar. Há argumentos, é claro, de que o ser humano seja naturalmente heterossexual, assim como há argumentos de que ele seja naturalmente bissexual, porém como mencionei acima, discordo de ambos em função do exemplo já mencionado. Necessito então de outra pergunta retórica em vista que possa progredir com meu raciocínio: Pelo que, então, sentimos atração? Eu particularmente modificaria essa pergunta e a direcionaria ao leitor de meu texto: Pelo que você sente atração? De certo, se várias pessoas lerem este escrito, serão obtidas várias respostas diferentes. Afinal, uns ou umas gostam de mulheres louras, morenas, que vestem roupas de alto custo, que vestem roupas decotadas, que não vestem nenhuma roupa... Ou talvez de pessoas gordas, magras ou musculosas, ou com traços asiáticos, de pele negra, morena, pálida, que usam óculos, que entendem de matemática, jogos, filosofia, sexo, que têm poder sócio-econômico e/ou político, entre outras centenas de milhões de características e/ou combinações destas que podem levar Alberto a sentir-se atraído por Luciana, por José, por ambos, ou ainda pela torneira de seu banheiro. A questão é que, salvo exceções, a meu ver não nos sentimos atraídos por sexo X, mas sim por um conjunto de características culturais pertencentes ao sexo masculino, feminino, ou ambos.

Todavia, muitos homens, mesmo sentindo-se demasiado atraídos por uma mulher em especial, jamais teriam um romance, ou mesmo quaisquer relações de cunho sexual, ao descobrirem que tal mulher na verdade modificou seu sexo ao longo da vida, tendo previamente sido um homem. Mas por que se esta satisfaria todos os fatores que eles precisariam para que pudessem ter com ela quaisquer relações sexuais ou afetivas? A resposta reside em outra série de características, que desta vez eliminariam a atração, sendo que podem ser exatamente aquelas mesmas que a criariam em outra pessoa, estando “Não ter nascido mulher” entre elas. Afinal, dentro dos conceitos do personagem aqui imaginado, ali não há uma mulher de verdade e sim algo pelo qual ele não sente nenhuma atração, ou talvez sinta, no entanto sua moral o compele a acreditar que é errado estar com tal pessoa, entre outras centenas de motivações possíveis para que seu sexo NÃO se oriente a ela.

Dentro da questão moral, aliás, podemos abordar uma série de questões também culturais, como o senso comum, o senso de formação da família tradicional e criação de filhos, a religião, entre outros fatores que se exprimem dentro da cultura de absolutamente todas as sociedades humanas. Tais fatores podem levar a diversas atitudes tanto em relação à própria, quanto em relação à orientação sexual alheia. O ser dentro da sociedade (e o conceito de orientação sexual só faz sentido ao ser colocado num âmbito social) pode sentir-se orgulhoso de sua orientação, seja porque acredita que aquilo é o certo, seja porque aquilo é uma forma de se auto-afirmar contra a discriminação que sofre; pode sentir-se errado e reprimi-la; pode descriminar a alheia, porque no fundo ele sente a mesma coisa, mas tem inveja do simples fato de que o próximo a expressa publicamente e ele, acreditando ser errado, imoral, ou uma série de fatores, não o faz... Dentre muitas outras situações que assumir – ou não assumir publicamente – uma orientação sexual podem ter dentro de um meio social.

Agora utilizemos de algumas exemplificações e explicações mais diretas: Pensemos num homem gay. Vamos chamá-lo de Alejandro. Alejandro veste-se com roupas e adota comportamentos que mostram a qualquer um que o veja de longe, qual sua orientação. Por que Alejandro faz isso? A meu ver, nosso personagem precisa desesperadamente se auto-afirmar dentro da sociedade, graças ao fato de essa descriminá-lo. Ou também pode ser que seja apenas um fator cultural gay – do qual eu acredito que a raiz seja a que descrevi – e que, após o convívio com outros homens também gays, Alejandro passou a, inconscientemente, mimetizar seus comportamentos. Pode até ser algum terceiro fator o qual não consigo pensar no momento, ou ainda um misto de todos estes. Alejandro sente-se atraído por homens musculosos, de cabelo curto e voz grave e profunda, talvez porque tais características exprimam a masculinidade para Alejandro, de forma que ele, por um fator – agora sim, chegamos ao ponto que até eu temia – talvez biológico, talvez psicológico, seja o que ele busca. Alejandro é homossexual, pois se interessa apenas por homens, no entanto ele busca as características que para ele definem um homem. Ou talvez não, de certa forma ele pode apenas buscar tais características, pois para ele elas representam poder, ou proteção. Mas vamos assumir que, no caso de nosso personagem, é devido a tudo isso representar a masculinidade, de fato.

No entanto, nem todos somos como Alejandro. Muitos de nós nos atraímos apenas por fatores os quais nos atraímos, sem descriminar se tais fatores provêm de um homem ou de uma mulher. Outros de nós somos capazes de abrir uma exceção a nossa normal orientação, visto alguma pessoa cumprir quesitos especiais, que muitas vezes nem sequer nós sabemos quais são.

Se a orientação sexual é um fator primariamente cultural, então ela não pode ser fixa. Ao longo da História, muitos estudiosos – dentre eles os mais famosos sendo Alfred Kinsey e Fritz Klein -, com a ajuda de pesquisas científicas e estudos baseados em dados de massa, afirmaram que a sexualidade – ou orientação sexual – não seria um fator fixo, como pensamos, mas sim móvel, modificando-se ao longo do tempo. De certo concordo com isso, já que nossa cultura está em constante mutação ao longo da vida. Um fator interessante é que ambos os estudiosos que citei acreditavam em uma espécie de progressão da sexualidade – apesar de que “progressão” não acredito ser a palavra certa. Essa progressão, no caso de Alfred Kinsey, começaria em 0 (completamente heterossexual) e terminaria em 6 (completamente homossexual), sendo 3 o “meio-termo”(bissexual, igual em relação a ambos os sexos). O trabalho de Klein, no entanto, aprofunda-se mais nesse caso, tratando de 7 níveis e trabalhando com a forma como a orientação seguir-se-á ao longo da vida do indivíduo. Portanto, assumo que um indivíduo de forma alguma nasça com sua orientação sexual, mas desenvolva-a ao longo de sua vida, ainda que fatores biológicos e de sua socialização primária (em especial nos primeiros três anos de vida) tenham papel fundamental em sua formação.

Atualmente é fácil observar na juventude um fenômeno de demasiados jovens bissexuais, ou que pelo menos assim assumem-se. Deixemos de lado expressões pejorativas usadas por grupos radicais (como “BUG”) e tratemos dessa questão mais imparcialmente. Antes de qualquer coisa é importante salientar que a adolescência é o período da vida em que a sexualidade – seja lá como se oriente – está mais latente do que nunca, assim como é onde o convívio com o mundo exterior e culturas diferentes se torna muito maior, despertando assim a curiosidade. Combinados esses dois fatores, mais a sociedade relativamente liberal do século XXI, já temos material suficiente para justificar tal fenômeno sem afirmar que os jovens buscam atenção, ou algo assim. No entanto, ao menos na forma como vejo as coisas, em muitos dos casos é realmente essa busca por atenção que acontece. No entanto há outra série de fatores. Talvez a carência, ou no caso das meninas a busca por atenção do sexo oposto, talvez a necessidade de colocar-se contra os padrões sociais em vista de uma formação psicológica rebelde, entre outras muitas situações possíveis. Todavia, vamos nos ater à primeira justificativa que apresentei, sendo esta: A combinação de uma sexualidade e curiosidade latentes a uma sociedade um tanto mais liberal que aquela do passado.

Partindo desse ponto, vou apresentar minha teoria, pois convivo intimamente com duas pessoas que se enquadram nesta categoria talvez moderna – ou talvez não – da bissexualidade. Meu pensamento é de que, voltemos a quando mencionei os homens que, ao descobrirem que uma mulher havia nascido homem, a deixariam imediatamente? Isso em vista de um fator negativo fortíssimo para eles, o “não ter nascido mulher” ou “ter nascido homem” que na mente de nosso grupo de homens seria o mesmo que “não ser mulher” ou “ser homem.” A questão é que, graças a série de fatores da adolescência contemporânea que mencionei, tal ponto negativo deixa de existir, permanecendo apenas o “ser mulher” e “ser homem” como pontos positivos e não negativos. Graças a isso surge, além de uma atração pelo sexo oposto (no caso de pessoas predominantemente heterossexuais que assumem tal postura bissexual) ou pelo mesmo sexo (no caso de homossexuais na mesma situação), uma falta de aversão pelo sexo pelo qual tal pessoa não se sente atraída, dessa forma ela pode ceder a estímulos sentimentais, como apaixonar-se, ou a estímulos físicos, como ter relações sexuais com uma pessoa de um sexo pelo qual não se sentiria normalmente atraída, apenas pelo prazer sensorial proporcionado pela relação. Graças ao convívio com isso e com essas idéias e, acreditando-se bissexual, tal jovem passa a realmente sentir atração por ambos os sexos, porém mantendo um deles como sua atração predominante.

Outro ponto para o qual gostaria de chamar à atenção é da necessidade de provar-se como válido para seu círculo social que uma enorme quantidade de pessoas possui. Graças a isso, muitos desses indivíduos, acredito eu, reprimem sua verdadeira orientação sexual ou mantém a mesma em segredo para garantir o respeito daqueles que o cercam. Isso também é outro fator que influencia na demasiada quantidade de jovens bissexuais no século XXI.

Por hoje, finalizo meu texto sobre as orientações sexuais variadas e sua formação dentro da sociedade contemporânea. Espero que tenham aproveitado a leitura e que tenha causado pelo menos um pouco de reflexão.

Obs.: Gostaria de atestar que me posiciono absolutamente CONTRA as comuns descriminações contra pessoas que, voluntaria ou involuntariamente adotam comportamentos que as dão identidades sociais relacionadas à orientação sexual diferentes de “heterossexual”, pois graças aos fatores que acima escrevi, acredito que tais descriminações e julgamentos são demasiado equivocados.

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Meu amigo Hel me cobrou escrever no blog, então bati esse texto aqui... Agora são 6:13, mas tôbem desde umas 3:30 digitando, refazendo, etc. Espero que tenha ficado bom ae gente. Desculpa a falta de imagens, mas o texto puro deve permanecer imaculado. ( O que significa que eu tô com preguiça de buscar imagens legais pra pôr aqui).

Beijos e fiquem com... Hum... Roda Morta. Roda Morta rula. Sérgio Sampaio rula. Zeca Baleiro rula.

2 comentários:

  1. Parabéns Yan. De todo o coração, esse foi um dos textos mais impressionantes que tive a felicidade de ler. Nunca uma leitura assim me fez pensar e repensar em conceitos que eu já tinha formados em minha mente. Sinceramente, ficou FODA. Bem construído, crítico [sem ofender quem pensa diferente] e acima de tudo, sincero. Congrats, really.

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  2. melhor post do blog, pqp, to ate sem palavras pra descrever o que senti lendo isso

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