quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

(Conto) A Maldição das Borboletas


Acho que muita gente já deve ter lido esse meu conto, seja eu mandando o arquivo, seja no orkut... Mas enfim, quem não leu tá aí. Boa leitura!

Era uma vez, há muito tempo atrás, uma terra de segredos e magia; e de seres gerados por tais segredos, seres infusos em tal magia. Nossa estória, caro leitor, ocorreu em uma mágica e linda floresta, situada nos confins deste mundo mágico e antigo, longe da malícia e ambição de qualquer ser intitulado “humano”. Pois enquanto as estórias nos quais estes envolvem-se sempre terminam em violência, luxúria e traição, nossa estória ocorreu e terminou pelos mais profundos instintos e pela mais límpida inocência.

Mas antes que você, caro leitor, abandone este mundo mágico que lhe espera e procure algo que melhor satisfaça seu interesse, trago de uma vez a pequena aventura do fado.

Pela floresta mágica, onde a tão dita magia fluía tão abundante que podia ser vista brilhando no ar sem precisar de razão para isso, vagava um fado - e por fado me refiro como deve imaginar, ao masculino de fada. Vagava alegremente, nu, em suas pequenas dimensões corporais, porém com um corpo de trazer suspiros às fadinhas de sua árvore - e até a alguns fados, dos mais ousados, também!

Mas não pelas fadas, tampouco pelos fados, batia o coração do jovem ser místico. Não, o dono de seus pensamentos, quando coletava o pólen das flores, era na verdade um par de asas! Oh, nesse ponto é importante ressaltar que além do rosto e do corpo, as asas eram um atributo da estética levado em demasia a sério pela sociedade dos pequenos seres mágicos.

Nunca vira o rosto, ou o corpo do par de asas que, de vez em quando, ao longe, capturava a atenção dos quase microscópicos olhinhos do coletor de pólen mágico. Mas era o suficiente para que o amor – e sim, falo daquele à primeira vista – fluísse do coraçãozinho alado. Oh, que asas lindas seriam aquelas que em flores tão longes, de um jardim da floresta que nunca ousara aproximar-se, colhiam também a essência das flores? Mas não importava a quem pertencessem, fosse fado ou fada, nosso protagonista às desejava com fervor.

E num dia em que, como todos os outros da floresta mágica, o Sol brilhava radiante no céu, banhando as plantas com sua flamejante sabedoria, o fado decidiu-se: voaria até o jardim ao longe e confessaria seus sentimentos para quem quer que fosse o dono daquele lindo e maravilhoso par de asas. E voou.

Mas ó, caro leitor, devo adverti-lo que, quando alcançou seu destino, o humanóide alado teve uma surpresa e que, nossa estória agora há de tomar um rumo trágico.

Quando o fado viu a quem pertencia o par de asas, pela primeira vez em séculos, sentimentos escuros tomaram o coração de um habitante da floresta mágica e, também pela primeira vez em séculos, o Sol deixou de brilhar no céu e nuvens negras e tempestuosas tomaram o antes azul brilhante que reinava acima dos seres mágicos que lá habitavam. Oh, sim, pois, diferente do que nosso protagonista esperava, quem possuía o par de asas não era uma linda e graciosa fada, tampouco um belo e viril fado. Oh, não, caro leitor, quem, ou melhor, o quê possuía as mais lindas asas que o fado já vira na vida, era, sem mais delongas, uma mariposa.


E como num passe de mágica, todos os sentimentos lindos e azuis que antes tomavam conta de nosso protagonista em relação à mariposa, tornaram-se cruéis e vermelhos e impulsionado por seu ódio e pela tensão que alimentou, durante tanto tempo, forçou a inocente e desprevenida mariposa contra a flor que esta colhia e, num ato obscuro que nenhum outro fado, seres de maravilhosa bondade e inocência, jamais realizara, violentou o inseto.

E como quem não fizera nada digno de atenção, foi-se embora e o sol raiou novamente por cima da chuva, formando um grande e belíssimo arco-íris.

Mas nossa estória não termina por aqui, caro leitor. Pois, alguns dias depois do ato odioso de nosso protagonista, a mariposa colocou seus ovos, como faria. Mas da união antinatural que o fado forçara sobre ela, nasceram as primeiras larvas que, mais tarde, em seus casulos, criariam lindos pares de asas como os de sua mãe e seriam, de toda a criação, as primeiras borboletas.

Fim.

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